AMÁLGAMA
*
Uma
Coleção
de
Obscenidades
MARCO ALEXANDRE
DA
COSTA ROSÁRIO
POESIA
EDITORA OGMIOS
(SEACULUM OBSCURUM)
EDITORA MORANGOS & UVAS
(SEACULUM OBSCURUM)
*BLITZBUCH*
2002 (1981 – 1993)
SUMÁRIO - AMÁLGAMA
VER O SOL NASCER (1981)
O SONHO DE JOÃO (1982)
O CERCO DE ZÁCRATA (Setembro de 1986)
OS NÁUFRAGOS (Janeiro de 1987)
RUDOLFH BLUES (1986)
MISS ENEIDA (1989)
SENHORA UNIVERSAL (Segunda versão para Miss Eneida – 1990)
MULHERES NO FIM DA TARDE (1990)
chegando em São Francisco, California, em 07 de fevereiro de 1966...às 21:15 (1993)
PENIEL (1992)
ÚLTIMAS VOZES NOS PORTÕES DOURADOS (1989)
LUTECE (1992)
HOMEM- CACHORRO (1992)
TRAZENDO TODOS PARA SÃO FRANCISCO OUTRA VEZ (1990)
SENHORA DOS PENSAMENTOS DISSIMULADOS (1992)
JULHO DE 1999 (1992)
CIDADE BELÉM (1992)
O FANTASMA NO DESERTO (1991)
NO CLAUSTRO DA ÁGUA (1991)
TEMPESTADE (1990)
ECOS DA RUA (1986)
O LOUCO (1989)
RAINHA DA LUZ (1992)
OS RELÓGIOS
(Primeira Versão - 1992)
OS RELÓGIOS
(Segunda Versão - 1992)
OS RELÓGIOS
(Terceira Versão - 1992)
VÁ, MAS NÃO ME DEIXE (1990)
O OBSERVADOR DAS ESTRELAS (1992)
AMÁLGAMA
Palavras Escritas Entre 1989 & 1992
TRAZENDO TODOS PARA ESTRADA NOVAMENTE (1992)
UMA NOVA CANÇÃO DE AMOR AO ÚLTIMO VIGILANTE NO TÚMULO DO FORASTEIRO (1989)
(Eu Fico Aqui... Tu Continuas por mim – Despedida do Rapaz que envelheceu e Não Retornará Jamais)
VER O SOL NASCER (1981)
Ver o Sol Nascer
Vontade de Viver
Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver
Ver o Sol Nascer
Vontade de Viver
Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver
Ver o Sol Nascer
Vontade de Viver
Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver
Ver o Sol Nascer
Vontade de Viver
Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver
Ver o Sol Nascer
Vontade de Viver
Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver
Ver o Sol Nascer
Vontade de Viver
Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver
Ver o Sol Nascer
Vontade de Viver
Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver
Ver o Sol Nascer
Vontade de Viver
Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver
Ver o Sol Nascer
Vontade de Viver
Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver
Ver o Sol Nascer
Vontade de Viver
Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver
Ver o Sol Nascer
Vontade de Viver
Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver
* Letra (na verdade, somente o refrão) da música Ver o Sol Nascer, do grupo paraense Lesos & Loucos. Autores: Marco Alexandre Rosário e André Sarmanho.
SUMÁRIO
O SONHO DE JOÃO
(1982)
Quando a noite chega,
o delírio avança sobre a praça.
Vestidos de cetim,
Baton e rouge.
João acorda e penetra num novo sonho,
e pensa em seu novo amante,
e pensa em seu novo amante,
e pensa em seu novo amante,
num novo sonho.
Sob as luzes dos carros
ele é a atração...
beijos de loucura
na pele morena.
Ele lança um olhar para um rapaz,
uma dança de liberdade na alma,
um fogo que jamais se apaga.
Mendigos cantam e choram e gritam,
putas conversam e bebem cerveja.
Mas ele aguarda a sua hora.
Então João penetra na noite...
Então João penetra na noite...
Então João penetra na noite...
Então João penetra na noite...
Então João penetra na noite...
Então João penetra na noite...
Então João penetra na noite...
Moonshine washing lines
Moonshine washing lines
Moonshine washing lines*
Nunca mais haverá outra noite
Nunca mais haverá outra manhã
Nunca mais haverá outro homem
Vestidos de cetim,
batom e rouge,
sangue e sonhos.
E João dança agora pelas águas do rio,
num colchão de nuvens,
o olhar voltado para um espelho quebrado...
vestido com lenços de cetim para sempre...
vestido com lenços de cetim para sempre...
vestido com lenços de cetim para sempre...
vestido com lenços de cetim para sempre...
vestido com lenços de cetim para sempre...
vestido com lenços de cetim para sempre...
vestido com lenços de cetim para sempre...
Moonshine washing lines
Moonshine washing lines
Moonshine washing lines
*Poema reconstituído em 2002.
SUMÁRIO
O CERCO DE ZÁCRATA
(Setembro de 1986)
Ria, Ria, Ouve-me, Estrangeiro,
Mulher! Homem alheio ao Tempo
Teu Filho que por estas terras passa:
Morreu. Unta com pó os Corpos...
Pobre Maria! São teus os degenerados Olhos,
Nas Margens Faz Presente dos Gritos de Vitória,
do Lança-os ao Esquecimento,
Tâmisa pois desta Terra
Sepultou Ninguém mais do Rei
Seu se lembrará,
Filho Nem da Paz
Embaixo haverão de Recordar.
de um
Véu
de
Bombas.
New Generation!
No War!
Lie!
SUMÁRIO
OS NÁUFRAGOS
(Janeiro de 1987)
Agitam-se os Navegantes
Ante a Tempestade
Motim no Tombadilho
E vai a Nau
Descendo em Espiral
Ao Fundo do Oceano
Ao Fundo do Oceano
Ao Fundo do Oceano
Rompe-se em Silêncio
o Doce Martírio
Entre as Vagas
Atravessando, Cegos, Frias
Paredes Flácidas
E Vão Descendo
Em Espiral
Ao Fundo do Oceano
Ao Fundo do Oceano
Ao Fundo do Oceano
Conchas Adornam suas
Fundas Covas Oculares
Cedem ao Delírio Fúnebre
das Fúrias Marinhas
E Tingem o Rosto Pálido
Com Ritos Tumulares
De uma Celebração
Acrílica
E Vão Descendo
Em Espiral
Ao Fundo do Oceano
Ao Fundo do Oceano
Ao Fundo do Oceano
Em Harmonia Adormeceram
Em seus Vales de Lágrimas de Cristal
De Encantos Mágicos e Murmúrios Mortais
Onde Alucinações Teceram
os Melhores Cantos
do Verão
Trespassados por Recordações Antigas
De Mortalhas Marítimas
Agonia Horror
e
Imensidão Aquática
Valsa de Corpos Irreais
Seus Lábios
Em Pedras Azuis
Em Corais
Em Ramos de Pérolas
Em Orgias de Coros
E Vão Descendo
Em Espiral
Ao Fundo do Oceano
Ao Fundo do Oceano
Ao Fundo do Oceano
SUMÁRIO
RUDOLFH BLUES
(1986)
mary, que tinha sobrenome alemão,
nua & absorvida nas luzes do estúdio.
mary, que tinha sobrenome francês
& chicotes & luvas & leques nas mãos.
dançando nas manhãs artificiais,
corpo-mármore,
esculpido pelas mãos de um morto
com os dedos no olho-fotográfico,
retendo uma fêmea instantaneamente para o mundo.
& seu único desejo era ser a playmate do ano.
mary, que tinha sobrenome espanhol,
& seu sexo bizarro & seu sexo barra-pesada,
vive nas paredes da prisão latino-americana,
entre brancos & negros & índios.
mary, que tinha sobrenome sueco,
surge nos muros & nos quartos,
em pinturas pornográficas,
salvando os fugitivos nas favelas.
mary, que tinha sobrenome...
imaculada absolvição de instintos,
concepção à cores para a revista...
enforcada pelo cordão umbilical da playmate do ano.
* POEMA DEDICADO À REVISTA PORNOGRÁFICA “RUDOLFH”.
SUMÁRIO
MISS ENEIDA
(1989)
A noite a chamava Miss Eneida, dama de conhecimentos...
recitava poemas para cultos e ignorantes
e uma noite sonhou ter sucesso na vida,
bebidas e mulheres, pouco trabalho,
e dias para rir e não chorar.
ociosos senhores que estão sentados nos bancos da praça
sem dinheiro e sem lugar para descansar...
todos a sonhar com o sucesso na vida,
bebidas e mulheres, pouco trabalho,
e dias para rir e não chorar.
e um dia ela poderia ter sido uma atriz de rock’n’roll.
e um dia ela quis ser uma cantora popular,
domiciliada e vivendo em belém do pará.
feto esquecido no coração da amazônia legal,
deixou os cabelos e a barba crescerem,
e encolhendo-se, flácida e enrugada,
sumiu na selva.
miss Eneida, miss Eneida,
desperte da própria morte.
miss Eneida, miss Eneida,
desperte da própria morte.
SUMÁRIO
SENHORA UNIVERSAL
(Segunda versão para Miss Eneida)
(1990)
a noite a chamava de senhora universal, dama de conhecimentos.
lia a bíblia para índios e pobres...
uma noite sonhou ter sucesso na capital;
bebidas e mulheres, pouco trabalho,
e dias para não chorar.
ociosos senhores sentados nos bancos da praça
sem dinheiro e abandonados ao luar...
todos sonham também com o sucesso na capital;
bebidas e mulheres, pouco trabalho,
e dias para não chorar.
na caravana todos se foram e deixaram
o lugar onde nasceram,
em direção ao norte, para a capital,
do sol nunca se aproximando.
cortesã de beira de estrada,
nosso rubro desespero vieste consolar.
e um dia ela poderia ter sido uma atriz de rock’n’roll.
e um dia ela poderia ter sido uma cantora popular.
pai e mãe vivendo em belém do pará.
feto esquecido no útero da amazônia legal,
deixou os cabelos e barba crescerem,
e encolhendo-se, flácida e enrugada,
sumiu na selva,
arrastada para o labirinto da noite única.
senhora, senhora universal,
desperte da morte.
senhora, senhora universal,
desperte da morte.
SUMÁRIO
MULHERES NO FIM DA TARDE
(1990)
Agarra o pau do teu homem,
é tudo o que resta do teu homem,
nem rios, nem beleza,
apenas carne e osso,
ruas e estradas,
os pés do assassino no assoalho.
agarra teu homem
como a vaca que és,
com tuas tetas arriadas e flácidas.
filhos subnutridos,
corpos sujos,
tão sujos que dão nojo
só de olhar para eles.
sujos e bonitos,
sangue brilhante nos lençóis,
esperma escorrendo na
pele clara e delicada do teu rosto.
máscara grotesca...
agarra teu homem...
agora que ele tem
o que quer e te ameaça com um riso e uma faca...
olhos que amedrontam,
mãos feias, marcadas.
agora que tens o teu homem,
lambe o corpo inteiro...
lambe o corpo inteiro...
lambe o corpo inteiro...
lambe o corpo inteiro...
SUMÁRIO
chegando em São Francisco, Califórnia, em 07 de fevereiro de 1966...às 21:15
(1989)
ao amanhecer
você levantou,
deixando o rosto da morte
em seu travesseiro.
há algo de errado,
um vazio em suas visões,
ainda que o céu azul
invada seus olhos cinzentos.
estou indo para são francisco
para são francisco, califórnia.
você não quer uma carona
para ir à cidade dos sonhos?
O homem ferido pelo amor
anda pelas ruas sem direção.
realmente, a vida não vai durar muito
e você vai morrer com ela.
seria melhor, então, você fazer alguma coisa
antes que chegue a sua vez.
estou indo para são francisco
para são francisco, califórnia.
você não quer uma carona
para ir à cidade dos sonhos?
enquanto você vê a velha mulher índia
enxugar suas lágrimas com as pedras do chão,
muitos pássaros desejam voar
através do paraíso, rompendo a solidão,
e embora você não tenha perguntado meu nome,
eu lhe direi que Eu me chamo morte.
eu me chamo morte,
eu me chamo morte, em são francisco.
você não quer viajar em meus sonhos
para encontrar a vida através de mim?
Eu me chamo morte
e estou indo para são francisco,
são francisco, califórnia, é esse o lugar
para viajar no verão,
e ainda que você tenha medo,
é melhor que o vazio que vejo em você.
Estou indo para são francisco
para são francisco, califórnia
você não quer uma carona
para ir à cidade dos sonhos?
Sim, você quer uma carona
para
escapar
do
sonho
mortal
da
vidaaaaaaaa!
SUMÁRIO
PENIEL
(1993)
E eu virei cantando e dançando
e meu canto soará duro,
soará agonizante...
Num alucinante e arrogante
insistir pela vida,
afastando a morte,
e luto contigo
até a alvorada
e não te deixarei enquanto não me abençoares.
E eu virei cantando e dançando
e atravessarei a floresta
e atravessarei o rio.
E eu canto para os mortos
que ainda respiram...
E eu canto para os derrotados,
E eu canto para os vencidos,
E eu canto para os fracos,
E eu canto para os loucos,
E eu canto para os amantes magoados,
E eu canto,
Eu canto e danço,
Com flautas e harpas e tambores,
Enquanto arrebento sepulturas vivas,
despertando os mortos
que ainda respiram...
Eu canto para os crucificados,
Eu canto numa terra onde as lágrimas são indefinidas.
Eu canto o amor
para os que não
podem ser amados.
Eu canto para o órfão
que ainda tem
uma mãe,
E eu canto e danço,
curando os ferimentos da mulher espancada,
E eu canto
para prostitutas, homossexuais e lésbicas,
Eu canto e danço,
atravessando a floresta,
entre feiticeiras e magos,
entre espíritos,
entre anjos e demônios.
Eu canto e danço
em volta do grande vazio humano,
em volta da imensa dor humana.
E eu canto e danço,
meu canto soa duro,
soa agonizante,
numa alucinante e arrogante
insistência pela vida,
afastando a morte.
Eu canto e danço na floresta
E eu canto para os mortos
que ainda respiram....
Canto para os derrotados,
para os vencidos,
para os loucos,
para os amantes magoados.
E eu canto,
Eu canto e danço,
Enquanto abro sepulturas
vivas
e desperto os mortos
que ainda respiram...
Eu canto para os crucificados,
Eu canto numa terra onde as lágrimas são indefinidas,
Eu canto o amor
para os que não podem ser amados,
Eu canto para o órfão que ainda tem mãe,
E eu canto e danço
Consolando a mulher espancada,
Eu canto
para putas, bichas e sapatões.
Eu canto e danço
no meio da floresta, entre feiticeiros e magos,
entre espíritos,
entre anjos e demônios.
Eu canto e danço
em volta do grande vazio humano,
caindo sempre em espiral no abismo do ego de Deus.
há mãos humanas tocando as estrelas,
há mãos humanas tocando a lua,
há mãos humanas tocando o sol,
E não há ninguém que toque a terra.
E eu canto e danço
sem ninguém ou com a multidão,
E eu canto e danço
para ser livre,
mas os teus anseios de liberdade estão aprisionados.
E eu canto e danço
para os negros e paralíticos,
E eu canto e danço,
enquanto encarno minhas múltiplas faces,
Seja eu o bêbado, o louco, o poeta,
o filósofo, o músico,
o advogado.
Eu canto e danço
para o filho que nunca terei,
Eu canto e danço
para o amor que jamais retornará...
Eu canto e danço.
Eu canto e danço
para ver a vitória dos derrotados,
Eu canto e danço
para ver a vitória dos vencidos,
Eu canto e danço
numa terra sem nome,
Eu canto e danço
numa terra...
Eu canto e danço
para ser o amado que não pode ser amado.
Eu canto e danço
E eu luto contigo
para ver a alvorada em tua face,
e não te deixarei partir enquanto não me abençoares
para ouvires o meu canto.
SUMÁRIO
ÚLTIMAS VOZES NOS PORTÕES DOURADOS (1989)
Coro: ôôôôôô!
Salva-nos, Senhor!
ôôôôôô!
Salva-nos, Senhor!
dos portões dourados
onde vaga o rato
e o tempo retrocede.
dos portões de ferro
da onde virá a ferrugem.
O comerciante: Anjos & Demônios
em meu jardim...
vozes comunistas atravessam
meus portões...
Um Anjo: força nos seja dada,
pois a selvajaria
toca a sinuosa & repelente
pele de um verme.
Um Demônio: o senhor americano visitou minha casa.
derramarei o sol do meio-dia
em vossas ambições?
construirei templos & fábricas?
abrirei fendas temerárias em vossas almas...
há muito perdidas?
para consumi-las na estação sideral?
não tendes tanto valor para mim...
a energia vibratória na crosta de um verme...
nós domesticaremos a todos
quando os bons tempos vierem,
mas o medo que nos domina
será para o vosso deleite.
Um Fiel: muitos segredos
muitas mentiras,
muitas demolições.
A virgem encontrará seu marido ainda?
O Comerciante: Derramarei ainda minhas possessões?
o tumulto das máquinas...
será alguém
na porta?
num lugar?
ainda haverá
alguma dor?
Anjos e demônios
em meu jardim.
Coro feminino: Salva-nos Senhor!
o demônio passou embaixo da cidade
e a serpente cumpre seu itinerário.
SUMÁRIO
LUTECE
(1992)
Eu agora sou uma máquina
no desespero e na alucinação...
Amo uma mulher,
mas ninguém responde,
mas ninguém responde.
Eu agora caminho como uma máquina através da noite:
vejo um homem espancando, espancando,
uma mulher dentro do carro,
vejo outra mulher chorando,
despedaçada pela noite,
vejo o massacre.
A vida é dura...
é a mãe noturna.
é a mãe noturna.
Ela está chorando,
ela está chorando no motel,
ela está chorando no motel.
Que estranha mão é esta que toca seu corpo?
Ela não tem direção:
“Eu lhe trago cigarros e vinho.”
“Eu lhe trago roupas de cetim.”
“Eu lhe trago dinheiro.”
SUMÁRIO
HOMEM- CACHORRO
(1992)
Durma em Paz! Estou aqui para proteger você.
Fique tranqüila! Ninguém entrará aqui.
Eu tenho esses músculos horríveis para assustar
qualquer um.
Tenho essas mandíbulas especiais para
morder alguém.
Se alguém entrar? Eu arranco seu abraço!
Se alguém sair? Eu arranco sua perna!
Não há motivo para você não dormir esta noite.
Você só tem que confiar em mim!!!!
mas não jogue muito longe o meu osso!!!!
não jogue muito longe o meu osso!!!
pois você terá que busca-lo.
Mulher Frágil! Manterei sua guarda!!
Mulher Vidro!!! Sou seu homem-cachorro.
mas não jogue muito longe o meu osso!!!!
não jogue muito longe o meu osso!!!
pois você terá que busca-lo.
SUMÁRIO
TRAZENDO TODOS PARA SÃO FRANCISCO OUTRA VEZ
(1989)
Eu estava na Terra do Fogo, na Patagônia,
quando vi um homem
correndo e fugindo de Wall Street.
Ele chegou perto e falou:
“Ei, rapaz! Podes me dar uma carona?
Tenho que fugir daqui. Ontem a noite pisei na lua!!
Mas hoje dei uma mancada e os índios
estão atrás de mim”.
Eu disse: “Ok, camarada, mas terás que arranjar um disfarce de índio!
É que Tatanka Yotanla e Tashunka Itcko
estão aí atrás, no caminhão e estamos subindo as
Américas. Mas, afinal, como te chamas?”
Ele disse: “Richard Nixon. Para onde vocês estão indo?”
Eu falei: É melhor pores teu melhor disfarce,
tua melhor máscara...
estou trazendo todos para São Francisco outra vez.
SUMÁRIO
SENHORA DOS PENSAMENTOS DISSIMULADOS
(1992)
Apague a luz do seu quarto
e veja meu rosto refletido no seu espelho.
A luz do meu quarto está acesa
e você não está aqui.
Não poderá ver minhas lágrimas
e nem poderá ver que estou sangrando.
Agora seu aborto está com uma arma
apontada para sua mente.
Ele quer libertá-la de sua dor...
Sou eu, Senhora dos pensamentos dissimulados.
Você acha que pode destruir as promessas que fez
rasgando pequenos papeis e algo mais.
Mas suas palavras possuem energia.
Você está toda comprometida, garota.
Agora seu aborto está com uma arma
apontada para sua mente.
Ele quer libertá-la de sua dor...
Sou eu, Senhora dos pensamentos dissimulados.
Você não tinha que se ocultar,
mostrar o que realmente não era.
Você deveria ter falado a verdade.
Você me viu desde o começo,
mas eu não vi você.
Agora seu aborto está com uma arma
apontada para sua mente.
Ele quer libertá-la de sua dor...
Sou eu, Senhora dos pensamentos dissimulados.
Não sei onde você vai buscar tanta ilusão,
tanta ambição, Senhora da Perfeição.
Tão rápida em apontar os erros dos outros e
incapaz de ver todas as feridas da sua alma.
Eu sei quem você é, sei de onde veio e
para onde vai.
Você é tão preocupada com o futuro.
Mas não há futuro nenhum para você.
Olhe esta gente toda rindo e bebendo e
olhe para o outro lado da rua,
olhe bem para os milhões de famintos.
SUMÁRIO
JULHO DE 1999
(1992)
Sol que queima a pele,
inúteis insistências e ambições.
Você se afasta e se levanta da cama
como se não fosse mais se deitar...
inúteis promessas desfeitas.
Você parte em busca de risos que
se converterão em lágrimas outra vez.
Mas eu verei você novamente em julho de 1999.
Eu sou daqueles milhões
que aqui estão e aqui foram colocados
para não trazer a paz,
mas para dividir a casa,
colocando o marido contra a mulher
e a filha contra a mãe.
mas, eu não usarei mais
a coroa de espinhos, nem a cruz,
nem o pão e nem o vinho
em julho de 1999.
Você sabe, Jesus é Satã invertido.
E na verdade, o bem e o mal
somente habitam em mentes enfraquecidas.
Você sabe que tudo o que você toca
se desfaz em areia.
Mas você gosta disso,
e por isso você deve se juntar aos seus,
e agora que o Anjo fechou suas asas
há uma ferida na minha coxa esquerda,
e isso significa que não poderei mais ajudar você.
Mas, na confusão e no caos,
nas lágrimas e na dor,
eu estarei em paz
em julho de 1999.
SUMÁRIO
CIDADE BELÉM
(1992)
Há uns trinta e três anos
cheguei a esse lugar
e demorei a entender
essa estranha mulher.
Senhora das Mangueiras!
Onde foi que perdeste teus filhos?
No cio da noite?
No cio da noite?
Cidade Belém
Cidade Belém
os forasteiros parecem te amar.
os forasteiros parecem te amar.
mas não os teus filhos,
mas não os teus filhos.
Eu posso jogar tuas sementes ao vento
E sei que nada brotará;
Eu conheço teu destino
E sei quando mentes.
Escorre o esperma no rosto da menina virgem,
quando todos os hereges estão de joelhos no motel.
SUMÁRIO
O FANTASMA NO DESERTO
(1992)
Que distância imensa,
Tão longe de casa.
Aqueles imbecis ao redor da sepultura,
Tão frágeis quanto o morto.
estou tão distante de casa,
gostaria de ver você por aqui,
uma sombra que se levanta,
mil sombras que se levantam
na poeira.
e a escuridão envolve tudo...
mas eu não posso ver com os teus olhos,
só posso ver com os meus.
estais só, como eu.
se respiras
ou não
isso não tem importância.
essa areia imensa,
essa imensidão aquática...
que direção nos indica?
Aqui eu sento apenas, e apenas penso no
que fui, e no que fiz,
nesse tempo dilatado,
estagnado.
Não, não sou um número
no meio desse infinito...
eu crio poemas...
SUMÁRIO
NO CLAUSTRO DA ÁGUA
(1991)
A ordem nada pode gerar.
A desordem fará a ordem futura
para descendentes de uma época em declínio,
um ciclo numa semente,
os olhos da águia sobre
a cabeça do velho-lobo.
ir além da onde os olhos podem tocar,
num abismo, num fogo perpétuo,
e lá dançam os anões,
refletidos no sol poente.
o que gerou a razão foi
antes a paixão,
mas não a própria razão.
as pessoas jamais serão as mesmas
num poço insignificante para a razão,
um salto gigantesco para a alma,
no meio do caos, dos delírios
e abismos,
da peste e do assassínio,
nada em vão, nada por acaso.
um milhão de mortos,
uma centena de guerras,
ainda é pouco.
a maioria das criaturas
ainda hibernam no ovo cósmico,
sem comunicação com os outros,
mesmo nos sonhos.
As essências estão mudando
e então fujamos da cidade.
o fogo transforma-se em água, a água em ar,
e o ar em terra
e volta ao fogo,
de onde fora gerado...
a carne gera os ossos.
fogo na cidade,
e fogo para o renascimento da ave,
a intuição sobre o nada.
Agora, os olhos do velho homem
viram-se para as ondas...
há golfinhos na alma do novo,
há baleias cantando,
e o velho homem
é arrastado para o oceano,
agora convertido em universo.
para cada renascimento,
uma dor apropriada;
para cada verão
um inverno,
e para cada rocha
encravada no cemitério,
uma flor entre as árvores do
bosque.
SUMÁRIO
TEMPESTADE
(1990)
Para Regina Lúcia
o velho egoísta está partindo,
o velho egoísta está partindo,
levando suas reminiscências infantis,
levando-as para o vento.
memórias embrutecem, lembranças apodrecem,
o velho egoísta está partindo.
o assassino da obscura floresta está fugindo.
o assassino da obscura floresta está fugindo.
o sangue derramado no ventre nupcial
a terra devorou.
mortos ressuscitam; vivos caminham outra vez.
o assassino da obscura floresta está fugindo.
mulher, vem despertar teu homem.
mulher, teu homem está morrendo.
toca-lhe o corpo,
entrega-lhe a mente
na distância, ou muito perto.
mulher, vem amar teu homem.
o amor vive entre nós outra vez.
o amor vive entre nós outra vez.
o impulso da vida, a sensualidade exuberante,
a casa será reconstruída entre seus próprios escombros
cavalgando entre a liberdade e o amor.
cavalgando entre a liberdade e o amor,
cavalgando entre a liberdade e o amor,
cavalgando entre a liberdade e o amor,
cavalgando entre a liberdade e o amor,
SUMÁRIO
ECOS DA RUA
(1986)
O silêncio quebrou o pulsar do coração vagarosamente,
esperando
as virgens persas
vindas do leste
atravessarem a noite num cavalo branco.
o transe da morte
hipnotizou um anônimo rosto
em lojas comerciais abandonadas.
na escuridão
o assassino caminhou frio,
adormecido em seus sonhos.
algumas faces agonizantes,
ocultas por negras mortalhas,
cobriam o muro da igreja,
e crianças aguardavam os cantos da noite chuvosa,
todas perdidas na escuridão.
meus olhos
observam o espetáculo
em todas as voltas do carrossel mágico.
mas, a próxima manhã já desce a rua
para encontrar um cadáver sonhador,
nos ecos da rua.
SUMÁRIO
O LOUCO
(1989)
o louco fugiu de casa.
o louco incendiou a escola.
o louco rasgou sua roupa.
o louco queimou seus livros e documentos.
o louco não anda ao lado de ninguém.
o louco juntou um exército para invadir a cidade.
não! ele não acabará como vocês...
o louco é a desordem divina para recriar a ordem perdida.
o louco abre vales através do inferno.
o louco destruiu as fronteiras das nações.
o louco crucificou a prostituta em seu corpo.
o louco ri dos sonhos do assassino.
o louco não está no hospício.
não! ele não será como vocês...
o louco entende o canto dos pássaros.
o louco beija a terra porque sabe que ela é sua.
o louco ama a terra, o oceano e a chuva
porque são seus e não pertencem a ninguém.
o louco está aqui,
o louco está em Deus e Deus está no louco...
e o louco é Deus.
e ele jamais acabará como vocês!!!!
o louco é um peregrino que
anda sobre o mar e nunca afunda.
Vês, este oceano é meu,
Queda infernal,
subida infernal,
árvores caídas:
“Vês, esta terra é minha,
e não tenho fronteiras,
e todo o meu cérebro está iluminado
pela escuridão.”
“O caminho imaginário não está tão longe
e o verão nos meus ossos
queima minha consciência
na cidade do pó.”
E ele correu para a beira do rio,
e ficou olhando o outro lado.
SUMÁRIO
RAINHA DA LUZ
(1992)
(Uma Pintura Sobreposta Em Uma Imagem Erótica)
Para Regina Lúcia
“A nudez da mulher é a obra de Deus.”
“A essência do doce prazer jamais pode ser maculada.”
(William Blake, 1793)
A boca...
o toque dos lábios,
suave sensualidade...
beijo vermelho.
A pele...
macio algodão, seda delicada...
alva areia,
cortejada pelo mar.
Os cabelos...
castanho-escuros, longos...
ondas sobre os ombros.
Os seios...
o desejo,
a realeza,
o mais doce vinho...
rubras auréolas
Os olhos...
o encanto, a sedução...
cristal vivo.
O coração...
o afeto, a harmonia, o equilíbrio...
sem limites...
delírio desacorrentado.
a paixão, o amor, o envolver
corpo sobre corpo
alma sobre alma
c ga c
o a r m a o
r l o o l r
p m m or m p
o a s org a o
a orga
s s g orgas s s
o o r o r g a s m o o
b b ORGASMO b b
r r rgasmo r r r
e e gam g e e
aso a
c a sm s a c
o l mo m l o
r m o o m r
p a a p
o o
a paixão, o amor, o envolver
corpo sobre corpo
alma sobre alma
mulher-criança,
às vezes triste... às vezes alegre,
louca pelo amor.
uma noite despertou-me,
tornei-me homem.
uma tarde, eu a despertei,
e ela viveu a suavidade do eterno prazer.
SUMÁRIO
OS RELÓGIOS
(Primeira Versão)
(1992)
Relembre como as horas queimam seus sonhos
e como a cada manhã, após a luz,
retorna a escuridão.
Relembre aquele muro de delírios onde vagava
sua sombra...
ele desabou e encobriu sua mente.
SORROW...
WE ARE DEAD
Você não teve tempo de ver o que havia por trás dele?
Você pode imaginar o que vive do outro lado?
SORROW...
WE ARE DEAD
Olhe, seus amigos bem sucedidos estão dançando
e se distanciando de você,
e embora você corra,
não consegue alcançá-los,
enquanto a distância fica cada vez maior
e sua voz emudece no meio da multidão.
SORROW...
WE ARE DEAD
porquê você ainda veste as mesmas roupas de anos atrás?
roupas que você usava por dentro e por fora, em sua mente?
elas estão sujas e gastas...
SORROW...
WE ARE DEAD
percebendo uma verdade apenas sua,
você a confronta com o absoluto,
tentando despedaçar ou retroceder os ponteiros.
mas, eles vão sempre para a frente e
nunca para trás.
então você esconde todos os relógios de sua viagem,
desejando viver 23 anos
apenas num diaaahaahaahahahahahahahahahahaahahaahaha...
Go Away...
Go Away...
Go Away...
Go Away...
SUMÁRIO
OS RELÓGIOS
(Segunda Versão)
(1992)
olhe como as horas queimam seus sonhos
e como a cada manhã, no fim, a escuridão retorna,
e o muro de delírios onde vagava sua sombra
desaba e encobre sua alma.
SORROW...
WE ARE DEAD
alma e sombra, você costumava chama-las de idéia real?
SORROW...
WE ARE DEAD
nós temos caminhos diferentes,
mas o fim deles é sempre igual para todos,
e outra vez andamos em direção ao silêncio.
SORROW...
WE ARE DEAD
Euseiquetudooquevocêsemprequisfoiabriraportaepartir...
SORROW...
WE ARE DEAD
você jamais imaginou um caminho tão longo...
você nunca pensou em olhar tão intensamente para esta vastidão...
SORROW...
WE ARE DEAD
assim como eu, você sempre gira ao redor
de uma verdade sua e outra maior, verdadeiramente absoluta,
e por poder tocá-las, você de vez em quando enlouquece.
SORROW...
WE ARE DEAD
relativamente, todas as coisas se parecem
e do mesmo modo, tudo permanece diferente,
e mesmo o amor e o ódio podem ser esquecidos.
Aondevocêvaiescondertodososrelógiosdasuaviagem?
...na areia da praia?
...ou no fundo do oceano?
Go Away...
Go Away...
Go Away...
Go Away...
SUMÁRIO
OS RELÓGIOS
(Terceira Versão)
(1992)
Percebi como as horas queimam meus sonhos
e apagam da memória os costumes e crenças antigas,
e a velha dama, em seu castelo de teias de aranha,
presta contas ao comerciante falido,
e como a cada manhã, no fim, a escuridão retorna
e o muro de delírios onde vagam as sombras
daqueles que se vão e nunca retornam
desaba e encobre suas almas.
SORROW...
WE ARE DEAD
almas e sombras, todos costumavam chama-las de idéia real?
SORROW...
WE ARE DEAD
Os caminhos diferentes e os lugares de repouso,
mas o fim deles é sempre igual
a cada toque dos sinos da igreja,
e os que choram ao redor do passado
outra vez andam em direção ao silêncio.
SORROW...
WE ARE DEAD
Euseiquetudooqueelessemprequiseramfoiabriraportaepartir...
SORROW...
WE ARE DEAD
para uma região jamais imaginada...
e nunca pensaram em olhar tão intensamente para esta vastidão?
SORROW...
WE ARE DEAD
E assim como nós, eles sempre giravam ao redor
de uma verdade particular e outra verdadeiramente absoluta,
E por não poder tocá-las, todos enlouquecem vez por outra,
ao redor dos giros e ciclos da vida.
Relativamente, todas as coisas se parecem,
e do mesmo modo, tudo permanece diferente,
e mesmo o amor e o ódio podem ser esquecidos.
aondetodosescondemtodososrelógiosdassuasviagens?
...na areia da praia?
...ou no fundo do oceano?
Go Away...
Go Away...
Go Away...
Go Away...
SUMÁRIO
VÁ EMBORA, MAS NÃO ME DEIXE
(1990)
Olhe, olhe para o meu rosto,
seu eu ainda tiver um rosto.
olhe através dos meus olhos,
veja as profundezas das covas vazias que ele oculta.
eu deixarei você vê-las, e só você!
mas não sinto piedade alguma da vida que eu tive.
leve minha vida, leve-a daqui,
eu não a quero mais.
você acha que representei bem meu papel no teatro?
eu estava lá, mas não era eu,
e pergunto a mim mesmo por onde andei
todos esses anos.
o teu corpo de formas vazias
já não interessa.
Quando a noite chega e sinto frio
ligo para um número qualquer
no telefone.
você gira em torno da verdade
o tempo todo, mas é incapaz de
tocá-la, e então, às vezes você enlouquece.
SUMÁRIO
O OBSERVADOR DAS ESTRELAS
(1991)
Rios de lágrimas na virada do milênio.
a voz dos profetas traça progressões matemáticas.
o terror de estar vivo e as portas abertas para a eternidade.
você pode me ouvir?
anos-luz do ponto central
onde a matéria petrificou
imagens estranhas.
O alinhamento interplanetário não deixa dúvidas:
olhos que agora tocam o sol,
olhos que agora tocam a lua,
abismos de estrelas
no portal do pesadelo...
semens, lágrimas, risos e sangue,
este oceano é meu e de ninguém mais.
As luzes brilham,
vem a resposta de plutão,
Urano insano ilumina a virada com tochas,
naves cruzam o sistema,
o olhar melódico de Júpiter,
cadeiras de roda, cadeiras de roda,
você não pode mais se comunicar.
luzes intensas,
tensão nas artérias,
anjos cumprem as leis,
explode o motor. Rainha da Luz,
quem é que está atrás dessa mascara?
quem fala com minha voz?
milhares de espíritos pedem perdão:
se você pode me ouvir envie um sinal,
olhos de gelo em seu rosto.
milhares de espíritos pedem perdão:
se você pode me ouvir envie um sinal,
olhos de gelo em seu rosto.
milhares de espíritos pedem perdão:
se você pode me ouvir envie um sinal,
olhos de gelo em seu rosto.
através das estrelas
através das estrelas
através das estrelas
através das estrelas
SUMÁRIO
(AMÁLGAMA)
(Palavras Escritas Entre 1989 & 1992)
uma casinha, um gato,
uma caixa de música,
mas o mundo gira & o mundo
é um ladrão que furta meu sonho,
arrastando-me para os tribunais, inquisições,
diante de professores, padres, policiais,
e mulheres.
& sempre vivi ao redor de
criaturas fúnebres, de olhos-cova...
sempre vivi num cemitério.
mulheres! acordem!
Soltem os cabelos invernais,
incendeiem o manicômio conjugal,
quebrem este espelho horrível,
que só vos expõem ao ridículo num asilo sideral,
& depois fujam para o Egito,
com o manto derramado sobre o corpo,
e sentem ao lado de quem vos odeia o suficiente
para vos amar.
o amor,
há só tristeza neste teu rosto emplumado de risos
& as plumas nem podem encobrir a tua alma vazia
no fundo de um espelho.
mas no mar eu sentirei fome!
sentirei foooooooommmmmeeeeeee!
Sabes o que é sentir fome?
As Ondas do mar trazem serpentes
& arrancam
os teus olhos
para que vejas.
Não toques meu corpo...
quero ir para algum lugar
onde não possa ver nenhum homem,
nenhuma árvore, nenhuma criança.
Quero estar ali, vomitando a cidade inteira
& tudo o que nela me foi ensinado,
seus prédios, seus livros, suas putas...
sou aquele que viveu dentro desta minha caverna
ocular e sem corpo...
não o conheço ainda, mas sei que ele existe.
Que os negros se fodam!!!
Isso mesmo,
os negros, os brancos, os amarelos
& todos juntos com o navio negreiro numa privada...
menos os poetas,
os poetas, os sacerdotes das essências das fúrias,
encobertas pelas alegrias e tristezas de formas absolutas
e no meio das máquinas.
Eles não tem cor, são invisíveis como os mortos,
mas eles tem um vício: o de sempre jogar a sua pele para que
alguma imbecil burguesa passe
por cima, sempre cortejando o desejo de um monge.
Uma mulher para um poeta:
Sou uma puta, ou sou uma freira.
“tenho medo da mulher,
todas as que toquei, eu quis leva-las a uma viagem
através do inferno, com última parada no paraíso...
a mulher e esse seu senso prático,
absurda imundice, essa completa falta de imaginação,
essa viva morte entre os dias.
Mas faço isso porque penso,
e se penso, é porque não existo.
Sou, digamos, uma célula cancerígena no tempo.
mas tu me chamas de louco.
não, não... sou... louco...
Aqui está o meu livro:
Tudo saiu de meu útero provinciano,
um útero já em decomposição.
o que olhas na janela, com tanta insistência:
Os pássaros.
O que tem de tão interessante nos pássaros?
O vôo, o vento tocando a plumagem,
o fim do sol, & o início da noite.
Esquece os pássaros, sonhador.
Pensa em tua mulher, em tua casa,
em teu emprego... os pássaros não dão futuro.
As mulheres apodrecem, minha casa um dia
cairá, e o emprego me envelhece.
Mas, se eu fosse como eles, estaria lá,
veria a terra como nunca outro homem viu,
e então,
escaparia das tuas mãos, não seria mais
teu servo, não seria...
mas temerias o caçador;
o caçador caça a si mesmo em
sua presa, e a águia se ri dele
na sua queda.
Teme a tempestade, louco!!! Não podes deter o
tempo.
O tempo me envelhece,
O tempo envelhece também os pássaros.
Acorda sonhador! O caminho já se curva, e a voz
já vacila, tuas pernas te farão cair na
calçada da grande avenida e terás fome...
Se eu tivesse um corpo coberto de penas
não temeria o teu tempo nem a tua fome,
não temeria o teu salário, nem teu mundo
giratório, nem teus vícios...
ouviríamos o canto do ancestral
embaixo das ondas
Acorda insano! Senão, não verás este país florescer...
os braços são necessários, as mãos constróem
arranha-céus
e então terás tua cidade desolada, com o teu
jardim de pedras, com flores artificiais.
tua cidade é um deserto,
um milhão de rostos escalam os edifícios.
Só os afogados podem
ver o futuro por baixo das ondas;
estaria longe dos teus modos
devastares a vida através da morte.
eu só tenho buscado meus
semelhantes na terra.
o caminho imaginário não está tão longe.
a primavera sobre os ossos
dos cidadãos do pó,
e Elifaz, Bildade e Zofar,
a caminho se apressam
e se sentam a teu lado, esperando
que fales a respeito da subida e da queda,
várzeas, palafitas incrustadas
na vida submersa do delinqüente,
e Elifaz, Bildade, e Zofar,
no caminho
e o vento e a correnteza do rio
ou na mata,
onde o assassino expressa seu rosto moreno
esculpido,
pronto para os caçadores.
Um caminho de luz arrasta tu e eu,
pelo campo imaginário, memória submersa,
nós partiremos para um lugar...
Ele estava ali, na grande avenida,
mas, quem lembrará de seus passos
na grande avenida.
lágrimas ao vento
& vaguei E rodei a terra
eu sou aquele que viu e ouviu desde o princípio,
conduzindo voz e silêncio ao esquecimento,
& conheço os segredos dos reis e dos súditos.
meu vestido invisível varreu as ruas de vossa cidade
& li as folhas dos jornais perdidos nas calçadas
& vim para dizer:
a vossa carne está doente
& a vossa mente enlouqueceu.
a carne apodreceu numa carne apodrecida...
vagina e pênis apodrecidos...
nas escolas e nas casas
só ensinais mentiras ao vossos filhos
dizendo a eles que há lugar no amanhã
quando sabeis que não há lugar nenhum,
nem mesmo para o amanhã.
a consciência do fim está nos escritórios e nas fábricas
construídos por vossas mãos
e quereis levar vossos filhos à escravidão
porque vos tornastes escravos
& não sabeis como alcançar a liberdade outra vez.
nas igrejas e nos templos
orais ocultando o rosto num gesto de piedade corrompida,
mas quando saís de lá,
ignorais o mendigo que está nu e tem fome
&, dentro de vossos carros,
amaldiçoais as mulheres da noite
enquanto vossas filhas se prostituem
em colunas sociais e em bares
& nem avisais a elas que a beleza se quebrará
quando se partir o espelho dos 60 anos
& até menos que isso.
que as lágrimas do faminto
germinem flores
em teu obsceno vestido de noiva.
os garotos das ruas
estão abandonados na escuridão da noite;
eles dormem em calçadas imundas.
mas eles terão seus dias de glória
quando invadirem as vossas casas,
deixando atrás uma poça de sangue.
naquele dia então tereis medo, chorando por vossos muitos erros,
mas estareis convertidos em pó
& nem a polícia que treinastes para vigiar o vosso patrimônio roubado
poderá vos salvar.
ONE OF THESE DAYS...
a terra onde nasceste está queimando aos poucos
e todo campo está dividido por cercas
e o vermelho do sangue derramado por vós
manchou o verde das florestas.
não deixastes lugar na terra para vossos irmãos...
construis estradas e grandes edifícios,
construis armas para lutar num circo,
& dizeis que o futuro está próximo,
mas só o que vejo perto de vós é o fim.
ONE OF THESE DAYS...
até quando irá durar a vossa festa? e eu mesmo vos direi:
não por muito tempo, porque o dia da vossa assolação
já foi estabelecido por vós todos que traístes a terra:
a lama que jogais no túmulo dos que vos chamam à razão
não é suficiente para deter a vossa destruição:
eu vago rodeando a terra por séculos obscuros
e vi impérios maiores em cinzas:
o fogo que queimou o véu de Sodoma foi silenciado por mim
quando os anjos fizeram-na explodir no início da manhã:
a águia de roma caiu ferida por uma única seta,
convertida em pão e vinho.
mas eu estarei na porta da vossa cidade
quando o grande cemitério se abrir
e a afundarei no mais profundo dos oceanos.
ONE OF THESE DAYS...
Ria, garota, ria.
diga sempre adeus...
o mundo gira & gira.
mas você diz sempre adeus.
um dia você acordou
e encontrou um bilhete de sua mãe
dizendo: “para que serve um fogão?
para colocar a cabeça no forno
e ligar o gás!!!”
e o homem vestido como pregador
com a Bíblia na mão
sempre dizia “sim”.
Um bom poeta
deve ser lido...
Alguns bons poetas devem
ser lidos...
a versificação exata,
a emoção serena,
ou exaltada,
a floresta, o regional...
joga todos no lixo,
e recria tu mesmo
essa velha mulher.
iluminar a linguagem
sempre,
não dando importância para as coisas.
a música, som
estéril demais para
conceber uma realidade.
A origem de toda ligação
consiste em:
cada fantasma
humano,
cada
caminhante,
cada
mulher desconhecida
que passa por tua frente...
imprimi-lhe na mente
a tua
imagem;
esta é a MELHOR forma de AMAR.
este sol que ilumina,
este sol que te ilumina,
está morrendo
queimando tudo o que desejas.
a vida,
um baile de máscaras.
o sonho,
um obsceno no carnaval.
o palhaço...
que anteontem foi rei.
vida nova! Nós a possuímos.
nós aqui nos juntamos, nós ali nos dispersamos
e em todo os lugares
nós caímos.
como no jardim
como no jardim
vem o amor,
e depois o ódio.
e vem a paz
florescendo na guerra
e todos caímos juntos.
como no jardim
como no jardim
ruínas humanas,
confinadas,
cavernas oculares
elaborando ilusões,
o sol brilha
para nosso naufrágio,
como nos velhos anos
do rei.
a porta abre-se para
a via-láctea;
a velha mendiga,
com seu traje negro,
fareja nos cemitérios
a antiga vida.
É que os mortos, em muitas
situações, estão mais vivos que os vivos.
uma província do inferno...
a selva agitada pelo vento e pela chuva.
os dançarinos...
numa província do inferno, edificada por nós,
numa província do inferno, edificada por nós,
podereis ver nossas almas
em abandono neste último hotel do tempo,
último século, sem aparência ou fim...
mãos para cima e orações sem fim para o vento
mãos para cima e orações sem fim para o vento
mãos para cima e orações sem fim para o vento
mãos para cima e orações sem fim para o vento
é inútil chorar...
ONE OF THESE DAYS...
no Brasil e no Mundo
gente que morre
gente nascendo
gente que respira
na floresta
& na cidade
& na rodovia
gente na grande vida
gente na subvida
no fim da linha de ônibus
no fim do mundo
gente chorando
gente que ri
gente nas ruas
gente saindo
de casa
gente voltando
para casa
gente nos cemitérios
gente nos escritórios
gente nos quartéis
ou no quarto
ou na sala de aula
todos na mesma morte
gente matando,
gente copulando no ferro-velho
vindas dos úteros, de todos os cantos do universo,
nascendo para respirar,
mas não para viver.
outubro, ainda outubro!!!!
nenhuma lei que eu acredite,
nenhum buraco que eu não esconda meu medo,
nenhum homem que eu possa beijar por amor.
gente-suicídio – por fortuna
ou desespero.
gente descendo os morros
gente subindo as baixadas
para gritar “não”!!!
porquê elas vieram aqui respirar,
todas unidas, mas em divergência
respirando, respirando, respirando,
e depois
dizem adeus a tudo o que viram na revista.
gente na carruagem de ferro...
o que foram buscar lá dentro?
o que foram buscar lá dentro?
ONE OF THESE DAYS...
o que foram buscar lá dentro?
o que foram buscar lá dentro?
o que aqui não faltam são palavras para
enganar a multidão que tropeça na poeira...
minha vida é criação a caminho da morte.
para nós o santo ódio,
minha mente é ascensão para um vazio
entre a vida e a morte.
A morte deve ser rápida,
precisa,
objetiva,
sem missa,
sem música,
sem flores.
expulse daqui o padre,
e o pessimista.
expulse daqui o sensitivo
e o açougueiro do
necrotério.
rápida e precisa
e científica
morte.
vai, viaja até o silêncio
e ouve o que pode ser ouvido de mais
útil.
corra o pênis em seu rosto, lígia!
beba meu leite, senhora!!!
meu filho crescerá,
se tornará forte,
para roubar tua casa
e assassinar tua família.
ONE OF THESE DAYS...
um tempo para tudo
A verdade é que existe um tempo para tudo,
um tempo para nascer, um tempo para morrer,
Sempre e sempre um tempo,
construindo e destruindo,
gerando e matando.
vejo que corres pelo campo para fugir de mim,
e eu só posso rir de ti, vendo tua fuga
no horizonte, porque ao virares a esquina, lá estarei eu te esperando,
com um outro nome, num outro corpo
mudam-se os atores, mas os papéis são
sempre os mesmos.
Pênis e vagina, beijos e presentes, confissões e lágrimas,
morte e bosta, e depois é juntar a pedra para golpear um ao outro,
e um tempo para derrubar, e um tempo para
edificar, um tempo para abraçar e um tempo
para afastar de abraçar, um tempo para rir,
e um tempo para chorar, e tudo isso é
o que sua vida sempre e sempre será
sempre e sempre
sempre e sempre
sempre e sempre
sempre e sempre
pequenos fetos que tremem de frio, num útero gelado,
dentes que apodrecem, mãos e pés, braços que vacilam,
corpo que engorda, olhos enfraquecidos,
voz arrastada e vazia, corpo sem movimento
atirado em uma cadeira de rodas,
mas sempre e sempre o desejo pelo novo
que amanhã apodrecerá.
tu és a mulher que amei ontem...
vais ser a mulher que amarei amanhã?
como uma erra, a outra errará
onde uma acerta, a outra acertará
sempre a mesma pessoa, com outro nome apenas
num outro corpo, mas sempre a mesma pessoa.
porque somos a repetição uns dos outros, e ninguém acrescenta nada,
e todos apenas aumentam o cansaço.
sempre e sempre num tempo
cujas feições vão se deteriorando e caindo
no esquecimento, a cada segundo.
Encontrei a morte num prostíbulo
e ela veio sentar e jogar cartas comigo,
e perguntei a ela qual o sentido da vida
mas ela riu e disse que também não sabia,
e estava ali para cumprir seu papel:
encerrar minha representação.
casas, mansões, casas,
discos e livros, filmes,
verão e inverno, sol e lua
e sempre os mesmos delírios
e tu sempre e sempre indo de esquina
em esquina, e sempre e sempre encontrando
a mesma pessoa, com outro nome,
num outro corpo, e não te apercebes como os anos
passaram e se foram, e tu dando
voltas e voltas no mesmo quarteirão.
mas haverá um dia
mas haverá um dia
em que estarás velhinha junto a minha sepultura
e ouvirás espantada
os sons do meu eterno e imutável riso.
Ironicamente, eu parei no meio da rua
para ser atropelado,
não por um carro ou caminhão,
mas pelo cansaço e pela eterna repetição.
ONE OF THESE DAYS...
cemitério dos cães
sinto-me longe da estupidez humanitária,
sinto-me tão distante dos nascimentos e das mortes,
acho que plantei meus ossos no cemitério dos anjos
usando máscaras a cada dia,
criando mausoléus encrostados num
rio de papel.
eu grito e ninguém me escuta,
eu sonho e ninguém me vive,
eu quero respirar
mas...
bando de putas boiando nas noites
coloridas,
amaldiçoando
o mendigo cinzento
com a Bíblia na mão.
o juízo final só existe na ação de cada um
seja um selvagem ou um louco.
há baleias no oceano,
corações pulsando nos cristais salgados.
ONE OF THESE DAYS...
deixem-me sair,
quero ir aonde já fui
ou
ir aonde nunca fui.
...pisar neste chão submerso
ONE OF THESE DAYS...
como tenho medo desse encontro,
desse encontro dentro de mim mesmo
com o outro que tanto me conhece,
desse olhar dentro dos próprios olhos,
não como num espelho [já que os espelhos são ilusões],
transpondo todas as almas
que viveram na minha carne,
e tu estarás longe de mim,
embora tu tenhas sido eu
e eu tenha vivido todos os teus dias
num único e estranho dia.
cuspirei nesses teus códigos,
nesses teus costumes estúpidos,
e hoje estarei livre
e ontem virei te libertar.
alucinaçãoãoãoãoãoãoãoãoãoãoãoãoãoão!!!!!!!!!!!!!
e
a vida vale mais que
a arte,
a vida é uma arte em si mesma,
não importam as obras.
não deves ir à cidade esta noite...
os anjos estão esperando na porta,
não deves ir...
segue o curso do rio,
este rio antigo
de eras remotas,
que sempre corre
até o antigo oceano,
e não precisas do vestido, nem da comida.
um animal é o que és,
um animal selvagem,
vagando pelas ruas
até que o oceano regenere seus mortos.
uma intromissão...
parte de um espelho,
toda uma grandeza,
se ela existia.
eu poderia, pedaço a pedaço,
deformar as partes
num antigo todo.
calmo, sento-me aqui,
entre as eras,
mas você o quis assim.
fecharemos uma década,
fecharemos uma década,
fecharemos uma década,
fecharemos intermináveis décadas,
fecharemos cem anos,
com portas de ferro
com portas de aço
com portas de barro.
os grandes pensamentos vêem do ódio
mesclados ao delírio
deixa toda covardia, oh vós que entrais,
mas podeis trazer contigo todo
o desespero, e toda a esperança.
nem o nariz, nem a moral da mulher do Egito
mudariam o mundo.
que fazes aí, pensando em teus irmãos
oprimidos, e nos seus opressores. tens a metranca
nas mãos!!! Assassina a todos!!!!
Livrai-os deles mesmos!!!!
Escreverei o que penso ou não? Escreverei?
Fala-me, piolho humano! Tu que estás lendo meus pensamentos,
tu que acreditas na moda, nas décadas,
naqueles que se dizem jovens
e que não passam das viúvas de uma ruína.
Andas rastejando nas ruas, com essa
comida nas mãos.
Parece que a cada dia que passa,
eu tenho maior consciência de mim mesmo, do mundo, dos fins.
Marco Antônio e Cleopatra
estavam errados.
Deveriam ter fugido
e se tornado
amantes no deserto.
o amor não vive se morres,
o amor não vive.
mas a loucura não seria um excesso de lucidez que prejudica a eternidade...
a arte de escrever é uma mentira, mas toda mentira é uma verdade inata...
gatas estropiadas.
morrer um milhão de vezes e não apenas uma
e retornar sempre
para o lugar onde andamos pela primeira vez.
ONE OF THESE DAYS...
ONE OF THESE DAYS...
ONE OF THESE DAYS...
uma seqüência para 1980
e esperamos muito pela nova década
os festejos, o natal,
o morto que não conseguiu alcança-la,
um velho, um jovem,
neste ou no outro lado
do mundo,
os festejos, o natal,
e já fazem seis anos que o idiota
enlaçou a corda no pescoço
(só vim a saber deste fato seis anos depois),
pendendo no teto, a lingüiça humana,
o bastardo que uma noite escreveu poesias
para levantar um sol ao seu redor.
eu fico de pé na margem,
olhando-os de longe,
o vôo de uma garça,
um boto que respira.
a imaginação concebe o que os olhos
chamam de belo,
mas a beleza não está no interior
e nem pode está no exterior...
o que é belo não pode ser tocado,
só os cegos podem ver a verdadeira beleza.
ONE OF THESE DAYS...
e foi assim que a década se foi,
uma década de horror morno,
despedaçado e refinado
e nada de bom se fez.
enganaram o tempo apenas,
como se tivessem vida dentro de seus corpos.
abriram lojas, queimaram florestas, comeram no restaurante.
e os cachorros ?
eles também já foram, um em outubro e o outro
no início de dezembro,
mas o quarto ficou pronto
agora a velha tem um quarto novo.
ONE OF THESE DAYS...
os cegos andam em grupos para não caírem
mãos nos ombros, uns nos outros apoiados.
se um deles falha, todos caem juntos.
eles não sabem aonde estão, nem sabem para onde vão...
a isso se dá o nome de humanidade.
ONE OF THESE DAYS...
há homens diferentes, embora sejam em número reduzido...
eles possuem visão e sempre andam sozinhos.
eles podem ver além da luz do sol,
eles podem ver além das muralhas do tempo,
eles sabem aonde estão e aonde vão,
e nunca há ninguém do lado deles.
ONE OF THESE DAYS...
novo vento,
novos campos,
o sol brilha,
brilha mais que o sol,
ilumina os campos verdes no interior
de todos nós.
tempo ao tempo,
e quando o inverno tiver passado
e a morte for uma prostituta esquecida no ventre da mão,
e nas lápides e no pó de quem passou,
nós retornaremos...
nós retornaremos...
nós retornaremos...
nós retornaremos...
nós retornaremos...
nós retornaremos...
nós retornaremos...
nós retornaremos...
nós retornaremos...
aos vales antigos,
aos montes luminosos,
o luar em nossos corpos,
a dança do fogo renovada.
sim, nós retornaremos,
imóveis e sem limites.
num estranho oceano de estrelas
um pássaro radiofônico veio me dizer
que andam falando que estou louco...
louco são os militares que treinam jovens para matar;
louco é quem prende e mata o ladrão
para ocultar seu próprio roubo.
ONE OF THESE DAYS...
em tua face o cansaço
será exposto embaixo
de toda lua artificial
que rodeia a avenida.
milhões de olhos de ninfomaníacas.
homossexuais e prostitutas
te condenam.
fui ao jardim, onde brinquei certa vez.
eu te ensinaria uma doce brincadeira,
tirar a roupa, só eu e você,
e na escuridão corto tua alma, tua força,
e sais pela floresta, para celebrar a caçada
de antigamente. não tens que temer,
não uso armas, mas se eu te encontrar,
não pertences mais a ninguém,
exceto a mim.
o que te contaram,
já que desceste tão fundo na vida?
como no átrio das igrejas,
repletas de serpentes
murmurando orações, o teu encanto foi perdido,
teu olhar náufrago, por trás da mentira.
não desceste tão fundo, amável criatura
de cabelos dourados,
pelos edifícios e avenidas,
o horror das feridas,
a tempestade de vozes
de gente morta dentro dos carros,
ou,
mendigando abrigo de porta em porta?
Estória absurda,
cenas embaçadas
no filme, riso celestial de um
monge,
teu olhar-sol, tua crença no absoluto
da vida moderna, espelhada pela razão.
o que te conforta neste caminho?
décadas infinitas, expandidas na memória
e no declínio de hoje,
tecnologia e paixão abortadas...
corpo sem alma.
nada sentes?
dor que não pode mais doer,
o dinheiro que pagaram
ao velho homem e ao rapaz
não serve para nada,
e juntos eles foram para um bar,
uma queda, ao lado da rodovia
e pelos copos amarelos.
o jovem ouviu do velho
a voz de algumas mulheres de carne e osso,
cheirando a concreto e poeira.
o aspecto simples da complexidade,
o aspecto complexo da simplicidade;
o verão e o inferno não juntam ninguém
quando você foi um inocente,
quando nós éramos pessoas simples,
e andando pelas ruas enlameadas,
ou, parados junto ao poste de luz da esquina...
nessa rua não há lugar para vagabundos.
pássaros do amanhecer
cobrindo a aurora,
como uma mortalha negra no ar.
o sonho de toda camponesa
é nunca envelhecer,
e os ossos nunca derreter
no forno do tempo;
o amor gera o ódio.
eu te levaria outra vez ainda
para a floresta negra.
os espelhos! os espelhos!
jovem mulher, jovem camponesa,
tu ti perdestes na floresta dos espelhos.
os pássaros na ponta dos galhos,
num fim da tarde,
e Elaine nada disso vê,
e ela fica orando pela distância,
com seus olhos dilatados pelo amor
de outra mulher.
venha para mim, meu amor...
sem sua vida eu não sou nada;
preciso de seu sangue aquecendo o pó
de que sou feito.
venha correndo pelo campo,
com suas orações e sua fé,
sem sua alma não há luz que me aqueça.
o meu tempo já retorna para a eternidade
e incerto é o meu futuro...
dos livros, sangue e lágrimas,
dos poemas, sangue e lágrimas,
mas nenhum sangue como o seu,
e nem uma lágrima como as que você
deixa cair, e elas se convertem em cristal.
você não sabe o que é querer morrer
e não poder...
você não sabe o que é querer viver
e não poder...
você não sabe o que é ter asas
e não poder voar...
venha para mim, meu amor,
deixe eu atravessar sua alma
e fazer dela uma porta para a eternidade humana.
vem comigo, desçamos para o coração da floresta e do fogo
sobre as águas.
meu nome tu não saberás...
há de ser sempre um mistério.
Esta noite, quando a lua cheia estiver brilhando,
tu vens comigo para as sombras da floresta.
trarás o vinho,
e em trajes brancos, a foice nas mãos,
sentados entre as pedras, o fogo fará refletir meu olhar
esta noite, envolvidos pelo luar.
beberemos o vinho, e dançaremos nas profundezas da realidade,
conclamando os espíritos,
e falaremos desconexas palavras,
mas ao amanhecer subiremos ao palácio da sabedoria
e quando vier a lua das folhas caídas
uma estranha tristeza rondará teu espírito...
choraras teus mortos
no vale do amor, agora repleto de sepulturas, muito antigas,
há muito esquecidas.
e quando eu te beijo,
o mundo desaparece,
o mundo desaparece.
se o homem que amas vier te magoar
não esqueças que se assim ele o faz
é porque assim tu mesma o ensinaste
ao despertares as sombras de teu passado.
desperta agora!
teu espírito envelhece, com as sombras do teu passado,
e a cada passo, mais a morte de ti se
aproxima;
o sol já se põe sobre teus olhos;
desperta, desperta,
as crianças já se riem de ti
e as feiticeiras já cantam teu nome.
o estio se aproxima
e eu queria contar apenas as
estórias da mulher que enxugava as lágrimas
com as pedras do chão.
ela é uma grande filha da puta!!!
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
ela é uma grande filha da puta!!!
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
ela é uma grande filha da puta!!!
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
ela é uma grande filha da puta!!!
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Num desses dias...
eu vou estuprar a mente dela com um cano de revolver.
SUMÁRIO
TRAZENDO TODOS PARA ESTRADA NOVAMENTE
(1992)
Que tal acordar
apavorado e assustado
num quarto estranho,
numa terra de
beira de rio que se chama morte,
como se alguém tivesse
te partido a cabeça
com um machado.
Que tal acordar
de uma ressaca
com a Bíblia na mão,
deitado sobre um tapete
de revistas pornográficas,
olhos vermelhos de álcool,
músculos doloridos
com a foto da mulher amada
recoberto de poeira,
sentindo-se um órfão.
não há mais dúvida
não há mais perguntas para responder
a não ser, irmão, que não sabemos mais quem somos nós.
ontem a noite
eu vi um hitler negro
embriagando-se no bar da esquina
após ter fugido de uma fazenda, onde estão acorrentados muitos escravos
do sul do Estado, acompanhado por uma besta,
e quando ele disse que estava ferrado
eu disse: acorda e vai ver
como o céu amanheceu cinzento,
e percebe que há crianças ao redor da tua sepultura,
cada uma apontando uma arma
para o caso de tu te levantares.
portanto,
pega as tuas coisas,
porque eu estou trazendo todos para a estrada outra vez.
SUMÁRIO
UMA NOVA CANÇÃO DE AMOR AO ÚLTIMO VIGILANTE NO TÚMULO DO FORASTEIRO
(Eu Fico Aqui... Tu Continuas por mim – Despedida do Rapaz que envelheceu e Não Retornará Jamais)
(1989)
alguns que aqui ficaram, aqui pereceram
o forasteiro daqui partiu,
deixando um sol em cada muro noturno.
um dia ele voltará,
enquanto que alguns que aqui ficaram, aqui pereceram.
eu tenho um segredo a ti dizer,
algumas palavras que li nas paredes dos conjuntos habitacionais:
uma transformação ocorreu nas senhoras deste lugar...
elas não se lembram de seu passado.
uma doce chuva molha os telhados das casas
a poeira dorme submissa ao vento
um cão não encontra abrigo nas ruas da cidade
e o forasteiro daqui partiu.
tu sabes: ele era meio louco
e nunca deixou a velha ambição de ser um peregrino,
e ainda que te amasse
jamais poderia deixar de caminhar no princípio
e por isso ele partiu.
o amor que se foi é sempre o amor que virá,
num outro tempo, num outro homem, num outro rio.
parados na selva de sonhos,
os olhos perdem a beleza e envelhecem.
se não andas sobre mar
sempre morrerás afogada,
e de todos os sons que podem ser ouvidos
o mais belo é o silêncio
e a melhor maneira de ouvi-lo
é olhando para dentro de um outro olhar humano.
de todas as bebidas
a melhor é a água.
ele nunca teve piedade das mulheres que conheceu,
mas de ti ele teve, porque estavas além
das mulheres que ele conheceu,
porque ele beijou todas as mulheres que amou
ao beijar tua boca cheia de estrelas,
um beijo de irmão,
gravado na alma, nunca na carne.
se eu fosse você
se eu fosse você
se eu fosse você
eu aguardaria até ele retornar.
quando ele retornar com seus livros
e sua música...
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
eu aguardaria até ele retornar
SUMÁRIO
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