America Latrina |
AMÉRICALATRINA&OGIGOLÔAMERICANO
MARCO ALEXANDRE
DA COSTA ROSÁRIO
POESIA
EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM)
BLITZBUCH 1988
SUMÁRIO – AMÉRICA LATRINA & O GIGOLÔ AMERICANO
LEIA-ME! EU SOU SUA BÍBLIA!!!!
AMÉRICA LATRINA & O GIGOLÔ AMERICANO
AS CINZAS DO AMANTE NA BOLSA DA JOVEM DA NOITE
PALAVRAS DA VELHA MULHER EM SUA CHUVA DE FLORES
(para um heróis do Ocidente)
LEIA-ME! EU SOU SUA BÍBLIA!!!!
leia-me! eu sou sua Bíblia!!! sinto que você está só, ansioso, muito nervoso!!! uh, uh! preciso de sua alma para alimentar seu Karma. oh! Viver seu drama! ver você se transformar numa brahma!!!
leia-me! eu sou sua Bíblia !!! vamos, leve-me para a rua, através de uma noitada anarquista. sei qual é seu problema: seu cérebro fica no pênis!!! sim! leve-me para um motel!!! satisfarei seu desejo!!!!
um milhão de mulheres nuas!!! altavelocidadesemdireção tensãocoraçãocopulaçãoconsolação vou colocar um revólver em suas mãos!!!
leia-me, eu sou sua Bíblia!!!
BAM! BAM! BAM! BAM! BAM! leia-me! leia-me! BAM! BAM! BAMBAMBAMBAM! leia-me! leia-me! AMÉRICA LATRINA & O GIGOLÔ AMERICANO
américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano
das ondas do mar, de um galeão espanhol, observamos a rainha américa latrina e seu gigolô americano: ele fumando charuto cubano. vamos lá que a rainha tem belas filhas e ela nos dará bons dotes e até seu ouro escondido embaixo de sua saia, e até mesmo sua prata, e o gigolô é nosso amigo.
américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano
mendigos à beira da avenida vomitando fome do pênis em ereção com bandeiras tremulando, coloridas, sobre bandejas de frutas tropicais, e o verde deu lugar ao cimento, e os índios fugiram para a floresta, e outros índios foram mortos pela cavalaria, quando fumavam o cachimbo da paz nos trilhos do trem, e muito navios trouxeram escravos para saldar a jovem rainha américa latrina & seu gigolô americano.
américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano
enormes são tuas florestas e rios. um dia, o deus branco, que por tantos séculos aguardavas, regressou em caravelas, não para trazer auxílio aos Incas, mas para crucificar Ataualpa no mastro das caravelas. trouxeram álcool e doenças também. mas, tu ficaste calada, adorável rainha.
américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano
quando as crianças do paraguay morreram, tu não as enterraste em teu solo, mas em tua memória. quando o canto da África foi ouvido em tuas terras, só tu não quisestes ouvir, preferindo entrar em tua igreja católica apostólica romana luterana batista, norte-americana... tu, rainha.
américa latrina & seu gigolô americano américa latrina & seu gigolô americano américa latrina & seu gigolô americano
as crianças despertaram, e foram parar na frente da televisão, e não querem mais aprender teus hinos e orações. teus operários estão famintos, perdidos em teus bordéis, tuas mulheres são prostitutas nas embaixadas dos impérios financeiros... só tu ainda insistes em cantar tua glória imaginária. tu, rainha. américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano
coro de crianças indígenas: compra um útero novo, fecundo. oh! senhora rainha! rainha américa latrina! entre flechas e arcos negocia teus pecados por indulgências que te levem às alturas resgata nossas terras queimadas resgata nossas poções mágicas resgata nosso passado que não chegastes a conhecer américa latrinaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!
um mendigo: meu pai era chefe de tribo, minha mãe era a melhor parteira de machu pichu, minha irmã é empregada na casa de meu senhor.
américa latrina, puta enjaulada em si mesma, não sei se sabes andar em moléculas desfalecidas ou no mar onde todos estão adormecidos.
américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano américa latrina & o gigolô americano
quando eu estavas nu, não viestes em meu socorro, e agora apareces em uma concha, como uma Afrodite indígena, gritando meu nome na multidão de padres Foda-se, tu rainhazinha... américa latrina respira um ar novo... só amas o que é grande, forte e poderoso... experimenta amar o que é fraco. Porquê não podes sondar os corações dos presos em tuas penitenciárias?
mulher – rainha américa latrina... se queres ser realmente grande, tira tua roupa em praça pública, como o mendigo em tua rua, e vomita os mortos que engoliste.
mas, depois volta ao silêncio marítimo e, sentada em tua cama vazia, relembra meu nome, porque eu perdi meu conforto para ouvir tua confissão em tua alcova.
Tu, américa latina. Tu, américa latina. Tu, américa latina. Tu, américa latina. Tu, américa latina. Tu, américa latina. Tu, américa latina. Tu, américa latina.
O AMOR CONTRUÍDO NO PÓ
o amor construído no pó
o medo da morte que te arrasta para o medo da vida que te arrasta para o medo da fome que te arrasta para beijar os pés dos senhores
o amor construído no pó
AMOR CONSTRUÍDO NA POESIA
O vendedor indo de cidade em cidade e seu amor sem raiz em nenhuma cidade
Seu medo da morte que o traz aqui sua persistência em conservar a vida e seu medo
Da fome que o arrasta de lugar a lugar fazendo-o beijar os pés do senhor do lugar seu amor construído na poeira
* Versão do poema “O Amor Construído no Pó”, publicado no jornal paraense Diário do Pará (Caderno D-4), no dia 23 de dezembro de 1988 (Sexta-feira), em Belém Estado do Pará.
LUGARES
se alguma vez andares por estradas perfeitas, que os outros consideram por demais imperfeitas,
e olhares para o complexo universo da tua alma nos espelhos submersos,
no antiquado paraíso, terás o teu pequeno mundo no caos das essências, e as formas nelas esculpidas,
passageiras, imprecisas, e a tua pele em erosão no rio envolvida pelo rio... o oceano em silêncio e a corrente de gelo queimando o teu sangue. O deserto é para nós, a cada movimento nos ciclos,
ou o ódio ou o amor nos labirintos, percorridos por amantes que santificam seus infernos nos muros finitos das ambições no mar em espiral de um cemitério desconhecido, teus sonhos adormecidos enquanto estás do outro lado do rio, acenando, imperceptível, aos outros que já não podem te ver.
AMÉRICA LATRINA
...muchos
&
muchos mares, &
Colombo & sua rainha nas ilhas índias
&
caravelas
La America
tierra & latrina America
La America La America
e suas igrejas e seus machos
La America La America
e suas escadarias e seu ouro
La America La America
e seus dançarinos e seus negros
La America La America
e seus assassinos e seus amores
La America
seus exércitos & seus dirigentes
seus
índios estrangeiros
& Colombo
e sua rainha
para
muitos
mares
ainda...
FASCISNÓLIA
Uma voz: Tudo
o que pode ser
perdido
É o que você pode perder
pela crença
queimando em você
TUDO TUDO TUDO
É o que
VOCÊ PODE PERDER
ou depois
OU ANTES DO DILÚVIO
Coro: TUDO O QUE PODE SER PERDIDO,
TUDO O QUE PODE SER PERDIDO,
TUDO O QUE PODE SER PERDIDO.
Uma Voz: Você corre para o tudo
E é o que você perde
É o que você perde
É o que você perde UMA HORA ANTES
DO MUNDO NOVO
UMA HORA DEPOIS
DO MUNDO VELHO
ÁGUA E MORTE
os delicados sons que nos chegam da cidade, o desespero claro e limpo dos subterrâneos ocultos. lá, onde abrigam-se os mitos do aço e do apodrecimento, a mulher chora quando o filho a rejeita.
ele partiu para um cerimonial, abandonou os palácios da música e do amor fugindo da cidade. o dia veio e o dia se foi amor e ódio e os caminhos foram sempre os mesmos, engolindo vida e morte a cada movimento perdido, e a existência declinando sem rumo em uma sepultura esquecida e vazia.
ele partiu e na cidade a chuva caia.
Tira tua máscara de medo e olha para a vida!
então, não te disseram que seria assim, ou achavas que encontrarias um paraíso aqui? infernos santificados e não o paraíso e embora acreditasses em um ou outro sabes agora que perdestes o tempo
ouviram o lamento e as lágrimas vindas do tempo?
Descobriram algo mais que disputas entre espíritos?
acreditaram quando o homem andou sobre o mar e curou as chagas?
Quando eu era uma criança, ouvi alguém dizer que a vida e não a morte era desejável. Um dia vi a mim mesmo: um rosto jovem na alma de um velho e agora procuro abrigo. Virão guerras e virão ilusões e todas às vezes que tentei gritar alguém abortava meu caminho.
Ir em direção ao oceano. Ir em direção dos montes e da gente humilde, enquanto na cidade os mortos dançam e habitam, putas vendem artificiais paraísos de placenta e sangue, lésbicas e veados convidam, ladrões e ricos homens celebram a poeira do tempo, bêbados e ateus, padres e pastores cegam a multidão, e o que deixaste para nós? e o que deixaste para nós?
Parem! a guerra começou. ...é hora de ouvir o silêncio... os anjos estão às portas da cidade, a espera do sinal e libertarão o átomo.
Deixa os que tu amas, pois é hora de partir, e é só contigo que quero viver.
os desejos são muitos e não haverá ninguém para sacia-los... confortáveis são a seduções e a roda da loucura está sem controle e ninguém sabe a quem ela atingirá & o cadáver do ditador encontra refúgio na imagem da t.v. e as pessoas andam e confundem sonhos & realidades.
sonhos & realidades... realidades & realidades... amores & amores... vida & existência...
Água & Morte! Água & Morte! Água & Morte!
Água e morte! Água e morte! Água e morte! Água e morte!
Água & Morte! Água & Morte! Água & Morte!
Água e morte! Água e morte! Água e morte! Água e morte!
Eu sou o que sou e nada sei para falar alguma coisa. e andei na extensão dos meus caminhos, e vi os mortos e as muitas lágrimas choradas por eles, e andei na extensão dos meus caminhos, e vi o sangue derramado nas ruas da cidade, e andei na extensão dos meus caminhos, e vi a destruição e a desilusão, e andei na extensão dos meus caminhos, e passei por Damasco e Jerusalém, sempre andando na extensão dos meus caminhos.
Por muito tempo habitei no subsolo da cidade e amei ali muitos que passaram por mim e recordo cada rosto que conheci e agora retornei ao oceano... e à vida. irmãos & irmãs!!! o silêncio é completo em nós e nossas orações são ouvidas para além do mar e para além das estrelas construiremos novos céus e novas terras a cada passo que podemos dar... todos sabem o que fazer. ...talvez saibam o que fazer.
AS CINZAS DO AMANTE NA BOLSA DA JOVEM DA NOITE
o amor perece numa casa pintada com rostos na memória e tu sais para a rua procurando um deserto para unir com o teu, e numa orgia de álcool revelas teus segredos aos amigos, pendurado pelo cordão umbilical da terra, agonizando como um feto no útero do universo, expondo teu crânio e tua alma a um estranho. nem bem viras as costas, e já vem o medo dissecar teu passado.
paga-se bem por uma jovem da noite iluminada pela rua. ela enrosca-se no poste enquanto cobra por teu alívio algumas notas envelhecidas. é o preço da tua liberdade... tua a violas e estais livre do pecado.
observas sua intimidade através da fresta de um espírito negro... será o amor tão pouco para dissolver-se num charco de amantes? custará o amor tão pouco que se pode pagá-lo com dinheiro?
Agora que sabes a verdade. observas a jovem da noite e todas os seus movimentos partindo no primeiro trem para outro quarto. melhor seria que beijasses a terra de minha sepultura, ajude-me! não quero morrer ainda vivo. ajude-me! não quero a ignorância do conhecimento. ajude-me! antes de partires com minhas cinzas em tua bolsa.
UMA FRAGMENTAÇÃO NA BIOGRAFIA
nós aqui – nós ali – nós em nenhum lugar – aqui & ali – em nenhum lugar nós – em todo lugar – onde houver o vácuo & a luz se propaga – no aqui & ali na ossatura da lua – ou no silêncio do lobo
nós – no fim - & nós – no princípio - & no ontem & no amanhã – o hoje já não existe – no fim & no princípio – no interior dos círculos – dos buracos do fim – para o princípio - & outra vez – o fim – nas orações em volta do sol
lamentação: em um lugar para lugar nenhum lugar, gerando sempre um caminho para lugar nenhum – para nenhum caminho quando, por indiferença, escondes o rosto no meio da multidão no meio do número, multidão individual – não coletiva – não una – dispersa – em confusão – nas palavras no muro
as lágrimas no muro – os olhos perdidos no jardim para jamais serem encontrados outra vez – nem céu renovado – nem fogo renovado – nem oceano antigo
o coração iluminado num animal e a porta aberta: para o campo, atrás da estação & o grito imperceptível na boca, efêmero, sem vida, ecoando na confusão dos carros, e assim semeias teu osso antigo no cemitério de carros, caindo nas pedras ordenadas – ou no lixo iluminado – ou ainda na distância
e o animal fere-se todo – no meio da maquinaria fria – defecando, rindo, chorando, ou uivando – esfomeado num canteiro de livros – indo de um caminho para um possível lugar – na geleira – na direção do vácuo infinito no ponto úterouniversal de um buraco de t.v.
nós te amarelos, apenas num sonho. nós te seguiremos, depois de ouvirmos a pedra. nós te sentiremos, no teu corpo, num cemitério elétrico. POEMA À MULHER IMPERFEITA
A mulher imperfeita foi aquela que o marido degolou com uma navalha em uma madrugada de chuva, dizia a imprensa
A mulher imperfeita foi ferida pelo marido quando ele a viu com outro homem num carro
mas eu não a considerava imperfeita ou mesmo perfeita, pois eu estava em sua cama naquela noite, ela era tão somente uma pequena flor, perdida em um jardim de cosméticos, em disputa com os raios do sol, e seus cabelos de fogo escorriam pelos ombros como mel
não, eu não diria que ela era imperfeita ou, pelo menos, mais imperfeita que o marido que naquela madrugada voltava de um motel
onde passara a noite na companhia da mulher de um amigo seu
NO PÁTIO DA ESCOLA
Longe é sempre uma antiga manhã apagada da memória, meu querido. Longe... é um dia que se perdeu na multidão dos dias, meu querido. Longe... é um dia que não tem horas, nem minutos, meu querido. Longe... e jamais voltará na memória... longe, muito longe... no começo, na origem... longe... muito, muito longe, meu querido.
naquele dia, estavas sentado no pátio do colégio ouvindo o rumor das pequenas ondas humanas correndo pelo jardim, iguais aos peixinhos no aquário do avental da professora.
...e o que será de nós no futuro? eles não dizem, eles não sabem.
maria não te ama mais. maria dança na beira do rio.
diz adeus às belas manhãs, recheadas de doces e lágrimas... diz adeus às belas manhãs elas não voltam mais, e a mulher tem muitos maridos e nem um filho... a força embrionária que fez de ti um espantalho.
De pé, em cima de uma ilha, lá estávamos nós, e nus, choramos no brilho do sol inicial.
guarda aquela manhã em tua estória...
são 11 horas são 11 horas
e novas crianças começam a sair outra vez das escolas e talvez encontres um rosto semelhante ao teu ao ver a poeira assentada em teus olhos-cristais, ao ver a poeira assentada em teus olhos-cristais.
vai, meu querido, vai pela floresta de carros, foge do fantasma que trouxe o espelho com a tua imagem. vai, desaparece entre os limites do oceano-concreto onde os bons rapazes perderam suas pequenas almas.
Carlos é hoje um mendigo, Ângela matou o marido, Antônio seguiu a advocacia, Andreia tem 2 filhos e uma neurose, José enlouqueceu, Edilson cumpre pena em Americano... pobres rapazes, gerados no subúrbio copular da modernidade provinciana, em baixadas, em grandes casas, regando a sepultura com boas notas, cantando o hino nacional e bebendo coca-cola. eles nunca sabem o futuro quando aquelas crianças estão rindo, atrás de livro, carteiras, com as mãos sujas de areia.
mas o pátio da escola permanece inabalável... o pátio da escola é de cimento e lajotas... o pátio da escola é um mar que devora as águas, vindas da nascente de um rio e nunca se enche.
não encoste suas grandes mãos imundas em nossos pequenos corpos!!!!
A CARTA
“minha carta suicida adormece numa folha de papel em branco a cada ano”
“no quarto ao lado soa o canto de uma prostituta cega; na madrugada irei ao seu pequeno túmulo visitá-la e adornarei de visões seu silêncio úmido, rindo com os dentes que sobraram na minha boca em sua carruagem nupcial para dementes”
“anjos giram o mundo em meu quarto... a faca quieta em cima da mesa, olho pela janela o mundo que se dissolve na rua chove muito durante a noite”
“no outro quarto um velho homem toca um violino. dever ser estrangeiro sua melodia penetra em minha carta, uma pequena serpente sonora rindo nas paredes invisíveis”
“engraçado! devo ter esquecido alguma coisa que gostaria de lhe dizer... não lembro...”
“minha carta suicida adormece numa folha de papel em branco nua como adão e eva quando fugiam do paraíso”
“ ‘wer beim juden kauft ist ein volksverräter’, gritou o velho no fim da melodia”
NO SOL ARDENTE
Dance, Dance, Agora você pode dançar, Ainda pode dançar na minha escuridão. Dance, Dance, Para os que voltam da cidade.
Corte, Corte, Minha cabeça, Expondo-a na entrada da cidade. O único lugar que você conhece no sol ardente: os quatro cantos da sua cama.
3 vezes, 3 vezes, 3 vezes
eu chamei seu nome nos jardins que separam meus espíritos... quebre seus ossos antes que o sol comece a chorar.
eu sou um morcego, eu sou um humano, eu sou um entardecer, misture o seu sangue ao meu.
deixe meu sangue invadir seu corpo... meu sangue doce,
meu sangue árido.
Senhora, Senhora, minha árida Senhora, que trata a todos com amor, quando lhe pagam bem
e todos colheram pequenas mulheres, para adornarem seus haréns.
nem amor, nem ódio...
homens, homens, [AQUI Encontramos o prazer nos jardins noturnos de minhas amadas senhoras]
Dance, Dance, Tudo pode dançar na minha escuridão.
Dançarinos e dançarinos...
Dance, Dance,
bela dançarina da solidão, e eu enxugarei suas lágrimas.
PALAVRAS DA VELHA MULHER EM SUA CHUVA DE FLORES
Despeço-me de mim mesma, Meu tempo, minha chuva e meu devaneio.
Despeço-me de mim mesma, Meu beijo, meu amante. E meu amor, e meu jardim, e meu telefone.
Meus sonhos fogem e minha porcelanas se quebram, Em meu coração disforme.
Declínio do verão.
Eu sou a senhora, A senhora destas ruas... sem ninguém,
Repletas de homens e mulheres, de crianças e gatos, e nem um amor na memória ao amanhecer.
e desse jeito, despeço-me de mim mesma e de minha casa, de meus sentidos.
Os vidros da janela se partem Um a um, Rangem as portas E meus homens não retornam Como faziam antes.
Eu sou a senhora dessas ruas, Eu sou uma desconhecida No interior de meu amor e de meu ódio,
E as lágrimas podem guardar suas filhas e oculta-las de uma desconhecida,
E desse jeito Despeço-me de mim mesma, Despeço-me de mim mesma, Em minha chuva de flores...
ABAIXO DA LUA AMARELA
Rosto embalsamado Pelo álcool
Uma já se foi Para viver um dia
Vida assim não haverá Nunca mais
ELEGIA(para um herói do Ocidente)
Aqui viveu, Aqui chorou, Aqui sonhou e riu, E ainda teve tempo para Fuder com mulheres de vida rápida,
Ricas ou pobres, ou ainda Enfeitiçadas... Sem ser político, andou sem ter direção, cuspindo em tudo o que viu e ouviu
Isso, até ontem a noite, quando a polícia libertou sua alma libertária,
Abrindo quatro magníficos jardins em seu crânio iluminado, Após ter estuprado uma garota que lhe quis negar o amor.
AVOZDOPARTIDO
o partido falou & as ovelhas cantaram. o partido traçou os rumos & nós o seguimos. ouviram-se gritos e música germinando na cidade, sem movimento, diante da voz do partido. e se o partido falhar, as ovelhas ainda cantarão... a multidão sempre estará alerta, sempre sufocada nos gritos, descendo & subindo. mas onde se perdeu a tua voz no meio dela, a tua voz sem importância, a tua voz que morre nos escritórios, nos comitês, nos quartéis. A voz do partido & as milhares de vozes, a igreja hermafrodita, o economista ilusionista ou o industrial no manicômio.
é a voz do mundo, a voz do ocidente, a voz do juiz, a voz do marido e o submisso silêncio, a súbita morada no paraíso entre duas bombas, primeiro sonho para a mulher enganada, profundo sono para o judeu em sua câmara de gás. e o partido é tudo no emblema posto na pele do velho louco, andando nas ruas do subúrbio sem identidade.
PALAVRAS
e o ódio pairando por todos os lados e nenhuma união... apenas reunidos para o saque no banco...
ocultos, devoraram um milhão de acontecimentos e não apreenderam nem um movimento.
então, eu vi algumas damas no jardim de Herodes nuas, rodeando a cabeça de João Batista.
Vista consagrada de imagens secas, mutiladas pela televisão, realidade mutilada, tempo mutilado, não recordado em esquinas, mas no banquete bem nutrido de miseráveis oculares muito foi visto e muito foi ouvido, por favor, eu quero o descanso no paraíso.
A Dama Tímida, a mão que oculta a carne, entrelaçada, que reveste o espírito com risos sem sentido.
O lugarejo fechado do sul, com a mente em redemoinho, sempre para o dia anterior voltada. Todos os fins correm para as referências do teu fim e o teu fim em todos os fins não está; o teu fim está em alguma ordem em desordem, ou num campo aberto pela imaginação em que cada poente é uma espera para um retorno possível, & estando ali, ou do outro lado deste lugar, não há existência que habite sem conceber o que é possível, onde as portas estão fechadas & as casas declinando para onde os ratos encontram o exílio num muro de palha erguido para o vento. A morte é e sempre será prisioneira da constante morte da vida; porém, só a morte da vida construirá um novo caminho para além do infinito, para além dos portões desta cidade... manhãs em fragmento, horas em ordem feitas para a desordem, aurora estilhaçada (pontos de ônibus) por aqueles que limitam o jardim para nada criar & assim fizeram aqueles que ontem estavam nos pontos de ônibus & agora germinam escassez nos cemitérios, copulando com quantos pelas ruas caminhassem até que uma onda de afrodisíacos os levassem às sepulturas ou a um novo altar de revistas pornográficas, onde uma janela nos mostra o campo descolorido. Procuro a flor, a voz não mais existe nas horas do relógio. A voz está mutilada pela confusão do silêncio & as horas do relógio estagnadas, o vento, a dama, e uma antiga dança ainda, em que a música não pode ser ouvida. Ali, no campo descolorido, onde me disseram que vivia a inteligência fiz uma casa e oculto meus significados, ali tudo converge para um fim uno, & ali eu vi um profeta crucificado na proa de um barco, sem rumo e sem referência, pois a corrente que nos animava o inconsciente se rompeu, & fomos para os vales deixando a cidade para trás, & fomos para as montanhas deixando a cidade para trás,
Celebraram o funeral no meio de uma chuva elétrica. Celebram a caverna ocular, vomitando sonhos na retina sem brilho. Nem descanso para aqueles que retiravam todas as horas para não viver nenhuma hora.
tecnologia na ALCOVA
Ela levantou-se no meio de uma noite comum, de uma quarta-feira comum, assustada com um pesadelo comum, e ficou olhando para a rua comum, e para a cama comum e vazia; e se debruçou na janela, chorando.
Depois ela foi ao armário, e depois ao banheiro, e voltou para o quarto, e apanhou o vibrador em forma de pênis... tomou um tranqüilizante comum, acendeu um cigarro comum, e um coração de amor artificial também comum.
whaleia
quando viu um homem se afogando no rio, que agora lhe parecia um oceano, não estendeu sua mão, deixando-o morrer, andando sobre as águas; a morte beija-lhe os lábios empoeirados, metade de seu corpo na lama, não sou um número no meio desse infinito, eu crio poemas e música.
A Norma a norma é esta: amar a ti mesmo com todo o egoísmo possível e depois despojar teu eu gasto de todo o eu possível para amar a quem não amas.
Deixe-me delirar, Doutor, até que eu possa olhar os pontos incandescentes na linha do tempo, Doutor, na linha do tempo, Doutor, através de um muro cinzento, até que eu vá ao manicômio para vê-los correr pelo campo da imaginação, e sem andar no cemitério burguês e sonhar seus sonhos num jardim...
o fim da ponte
A dama está viva rindo na ponte, desdentada, do homem sem relógio, pinturas movem-se na sua parede visual... as lágrimas e os risos que secaram no muro do cemitério...
Tão Sonolentas,
isto é uma grande mentira...
não existirão mais lágrimas, nem risos, nem cemitérios, nem fábulas, nem encantos, nem fadas, enquanto os portões enferrujados da manhã nova não se abrirem para a escuridão.
Ratos na mente, Fome na mente, A imaginação foi banida, E no campo, o concreto Emerge, num sol estrelado
O Espelho
O ideal é conheceres a ti mesmo, olhando-te profundamente neste espelho. Não me podes ajudar. Não posso te ajudar. O que sei apenas irá comigo. O que nunca pude saber Também irá comigo. É ideal conheceres a ti mesmo... então saberás a quem velam no templo.
que luta justa é essa, se jamais poderás ganhar.
Eu apenas ando atrás de uma nova alma.
cada palavra que digo, cada palavra que desminto.
não teve importância...
Eu quis ter outra Existência, Outra alma... essa multidão onde desapareces incógnito, no meio da eletricidade, jamais saberás...
Nos ensinaram tão perfeitamente o caminho que nem Deus crê em mim.
O corpo deteriora, o amor que você quis salvar. O amor que nós todos quisemos salvar. Um belo corpo, que vai se deteriorando.
Eu quis tanto ser salvo, Eu quis tanto ser salvo, Que acabei me perdendo.
Aithas
Eu quis fugir de você... uma luz além de mim iluminou-me um dia, uma energia que eu não pedi, uma energia que não gostei, agora volta-se contra mim.
Exorcismo
Eu paro, você para, nada ouvimos, apenas sentimos, apenas sentimos, você para, apenas ouvindo, venha sentir a fome que eu sinto.
Diga adeus ao paraíso enlatado. Nação sem face, homem sem nome, com toda as tuas torres de Babel feitas com bolo de concreto... com teus super-heróis, obrigado por me deixares dormir em teu deserto, com o teu palco de estrelas cadentes, com teu filho de olhos azuis chorando no metrô selvagem.
A Esposa & o Cadáver...
Ela, parada no meio das velas, foi a única que não o esqueceu, Parada, ela diante daquele monte de carne apodrecida, velando a memória do amor ou do ódio, em um ponto do tempo que passou.
Eu teria te amado se não tivesses gostado da poesia que te dei e pelo meu ódio eu te amei pela tua falta de prazer líquido. Afinal, para que serve a poesia, se como tudo, não poderia ter significado...
A Fada Cinzenta,
os olhos do homem sentado no banco da praça, com sua maleta cheia de iluminuras, diante da fada cinzenta, voltou-se para todos os lados possíveis, em todos os rostos que passavam, e os carros... quando os sábios do partido tentavam convencer o idiota dos benefícios sociais dos seus objetivos. E ele foi até o deserto e lá encontrou um profeta: se queres saber a verdade, o todo está em algum ponto do vazio.
As Máscaras...
em cada rosto no ônibus as máscaras vão da entrada para a saída, e, quando eles respiram à meia-noite de Sábado, voltam para suas casas em algum conjunto habitacional, perto do coração de algum cemitério.
As palavras de amor, belas e doces, são mortalhas, mulher!!!
o amor por todos os lados recoberto por fotografias & o universo inteiro girando nas folhas de jornais & o vento velando as folhas desgarradas numa rua iluminada. por quanto tempo estivestes adormecido, ancião? andando pelas terras do rei, segurando nas mãos de estranhos os espelhos com a tua imagem possível, sem magoar nenhuma mulher, sem juntar nada para o tempo perdido, cabelos de crianças no jardim, & ódio & amor & fome & nenhum lamento. roubei uma porção de terra dos continentes para fazer uma ilha para as cabras & tenho que ir até o outro lado do rio para encher a taça de ouro que vimos no jardim para verter a essência na água e no rio, nos portões da cidade.
transformando a queda numa elevação, nos movimentos apenas pressentida, para reabrir o paraíso.
deveríamos acender o fogo e rir dos acontecimentos, fazendo deste encontro um princípio para as linhas do tempo. O vento bateu, e as portas caíram, já fazem décadas... os ossos embranqueceram... obscura fresta nos olhos de um morto... um cemitério de imagens brancas descendo pelo abismo dos séculos numa rua de mão dupla. A noite declina na manhã.
Damacisne observa, com a fumaça do cigarro nas narinas, a casa em desalinho, a via para o esquecimento é a morte... há cinco séculos a vida não é vida, se é que já foi... Pétalas de poeira nos lábios, alguns dizem adeus e outro não tem o que dizer, gente & gente & gente nas ruas, gente caindo, gente se levantando apoiados nas sombras de cada um para ver a queda de todos.
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